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Ícone do fotojornalismo brasileiro, Orlando Brito morre aos 72 anos em Brasília

Repórter fotográfico e editor, ele passou por algumas das principais publicações do país, ganhou prêmios nacionais e internacionais e publicou seis livros.

Por G1 — Brasília - 11/03/2022 08h52 Atualizado há 4 meses

 


Referência do fotojornalismo no Brasil, o fotógrafo Orlando Brito morreu nesta sexta-feira (11) em razão de complicações decorrentes de uma cirurgia de intestino.


Ele tinha 72 anos e estava internado no Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal. Separado, deixa uma filha, Carolina, e dois netos, Theo e Thomas.


Durante a carreira, Orlando Brito registrou presidentes, políticos e personalidades do poder, contando por meio de imagens parte da história política do Brasil, desde os anos 1960. Também produziu um acervo de fotografias de cidadãos comuns, indígenas e expoentes do mundo esportivo e cultural, além de ter viajado por mais de 60 países e acompanhado copas do mundo de futebol e jogos olímpicos.


Em 1979, quando atuava no jornal "O Globo", se tornou o primeiro brasileiro premiado no “World Press Photo Prize” do Museu Van Gogh, de Amsterdã, na Holanda, o mais prestigiado prêmio de fotojornalismo do mundo. Ele obteve o primeiro lugar na categoria "Sequências", com uma sucessão de fotos sobre um exercício militar intitulada "Uma missão fatal".


No Prêmio Abril de Fotografia, Brito foi considerado "hors concours", depois de ganhar por 11 vezes.


Também publicou seis livros de fotografia, entre os quais “Poder, Glória e Solidão”, no qual retrata episódios e personalidades da história política do Brasil.


Trajetória


Orlando Péricles Brito de Oliveira nasceu em 1950, em Janaúba, Minas Gerais. Começou a carreira em 1964, aos 14 anos, como laboratorista no jornal “Última Hora”.


Depois trabalhou como repórter fotográfico e editor de fotografia. Passou pelas redações de “O Globo”, "Jornal do Brasil" e revistas "Caras" e "Veja" — nesta última, em dois períodos diferentes. Ao deixar a revista, criou a agência de notícias Obrito News.


Em entrevista ao programa “Trilha das Artes”, da rádio Câmara, da Câmara dos Deputados, foi questionado se tinha a fotografia como "paixão". Disse que esta seria “uma das primeiras e talvez uma das únicas”.


“A fotografia é tudo para mim, é o que me trouxe até aqui. Eu não consigo enxergar nada sem ser pelo ângulo fotográfico, visual, estético. Então, eu não consigo fazer nada que não passe, que não toque, no tema fotografia”, declarou Brito na entrevista à rádio.


Segundo afirmou à rádio, fotógrafo não escolhe o que fotografar.


Fotojornalista Orlando Brito, em imagem publicada por ele em rede social em 2022 — Foto: Instagram/Reprodução


“Um fotógrafo — especialmente os de notícias — não tem como escolher temas. Ele está ali de acordo. Ele não age. Ele reage às pautas que vêm a ele”, afirmou.


Durante a carreira, Brito testemunhou diversos momentos históricos, entre os quais o fechamento do Congresso Nacional em 1977, na ditadura militar, durante o governo do general Ernesto Geisel.


Em depoimento para um documentário da TV Senado, disse que, na ocasião, quis mostrar por meio de uma imagem aquele episódio da vida política brasileira.


"Eu saí, subi a escada, fui lá em cima e fiz mais dois cliques com uma grande angular, mostrando a solidão do plenário", afirmou.


Em 8 de outubro de 1992, clicou o então deputado Ulysses Guimarães na rampa do Congresso. Quatro dias depois, o parlamentar, presidente da Assembleia Nacional Constituinte e apelidado de "Senhor Diretas", morreu em um acidente de helicóptero na baía de Angra dos Reis.


Ulysses Guimarães na rampa do Congresso, em imagem do fotógrafo Orlando Brito


Nos últimos 55 anos, Orlando Brito registrou todas as posses presidenciais — desde o ex-presidente Arthur Costa Silva, em 1967, até Jair Bolsonaro, em 2019.


Em 2011, Brito fez uma das últimas fotos do ex-presidente Itamar Franco. Em um podcast, disse que o “ar estranho” do então senador por Minas Gerais o motivou a fazer o registro.


"Aquele ar estranho me levou a fazer uma fotografia. Uma foto triste e surpreendente. Foi a última imagem que eu fiz do doutor Itamar. Horas depois, ele seria internado, em São Paulo, e viria a falecer de leucemia aos 81 anos", relatou.


Repercussão política


Nas redes sociais, políticos, governantes e magistrados lamentaram a morte de Orlando Brito.


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que Brito registrou a história da política brasileira.


“Com talento e sensibilidade, transformou imagens em notícia. É uma grande perda para o jornalismo brasileiro”, afirmou o ex-presidente.


O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, manifestou solidariedade à família do fotógrafo e disse que "as lentes de Brito "registraram, com arte e inspiração, grandes momentos da história da política brasileira”.


A pré-candidata do MDB à Presidência, senadora Simone Tebet, disse que Orlando Brito “deixa um importante legado para história política do Brasil”.


O ministro Carlos França, das Relações Exteriores, lembrou que Brito fotografou em mais de 60 países e teve a obra exposta em várias cidades do exterior, como Londres, Nova York, Paris, Tóquio, Madri, Lisboa, Basiléia e Buenos Aires, em algumas com apoio da pasta.


"O ministro das Relações Exteriores, Embaixador Carlos Alberto Franco França, manifesta suas condolências aos familiares, colegas e amigos de Orlando Brito e se junta aos muitos brasileiros que lamentam a perda de um de seus maiores fotojornalistas, que documentou como poucos a realidade nacional e a difundiu no Brasil e no exterior", informou em nota o Itamaraty.


Os ministros João Roma (Cidadania) e Fábio Faria (Comunicações) também prestaram homenagens. Faria classificou Brito como um “amigo” e escreveu que o fotógrafo “fez parte da história de Brasília e vai deixar saudades”. Enquanto que Roma afirmou que Brasília acordou “sem as cores registradas pelas lentes” de Orlando Brito.


“Brito era generoso e dedicado, um amigo simples e humilde. Ele respirava fotografia, muitas premiadas no mundo inteiro”, disse o ministro da Cidadania.


Os presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também se manifestaram em suas redes sociais. Lira disse que o fotojornalismo brasileiro está em luto e que as fotos de Brito “testemunham” a história do país. Pacheco lembrou a origem mineira de Brito e a carreira premiada do fotógrafo.


“Profissional com olhar único, registrou por décadas presidentes e personalidades da vida política do país”, disse o presidente do Senado.


Os governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União), repercutiram a perda do fotógrafo.


Ibaneis determinou a mudança do nome do Teatro Galpão, localizado no Espaço Renato Russo, para homenagear Brito. O lugar passará a ser chamado Teatro Galpão Orlando Brito.


O ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB) também lamentou a morte de Orlando Brito. “O Brasil perde um grande profissional e um grande ser humano”, escreveu.


No Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), Alexandre Silveira (PSD-MG), Alvaro Dias (Podemos-PR), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) publicaram homenagens ao fotógrafo.


“Quase 60 anos de carreira e a cobertura fotográfica de pelo menos uma dezena de presidentes da República. Eles desciam a rampa um dia; Orlando Brito continuava lá… até outro dia… antes de ser internado e falecer hoje”, disse Styvenson.


“Como pessoa humana era doce e gentil. Deixará muitas saudades, sobretudo legados éticos e humanitários”, escreveu Renan Calheiros.


Na Câmara, Alice Portugal (PCdoB-BA), Alessandro Molon (PSB-RJ), Marcelo Freixo (PSB-RJ) e Baleia Rossi (MDB-SP) lamentaram a morte de Orlando Brito.


Baleia Rossi ressaltou que Brito foi o “grande fotógrafo do processo de redemocratização do Brasil, no início dos anos 1980”.


“Era admirado por colegas por ir atrás de boas informações, e não só de boas imagens. Tinha o respeito de lideranças como Dr. Ulysses e Dr. Tancredo. Sempre defendeu o Congresso de portas abertas para o povo brasileiro”, escreveu o deputado.


O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, também se manifestou e disse que o jornalismo brasileiro perdeu "um fotógrafo de excelência". “Em nome da Suprema Corte, destaco que o jornalismo brasileiro perde um fotógrafo de excelência, que registrou imagens que deixaram e deixarão marcas na história de nosso país”, disse o ministro.


O ministro Gilmar Mendes, do STF, manifestou pesar. “Aclamado internacionalmente, Orlando recebeu inúmeros prêmios por suas fotografias, que registraram importantes acontecimentos da história política brasileira”, afirmou.


Link: https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/03/11/icone-do-fotojornalismo-brasileiro-orlando-brito-morre-aos-72-anos-em-brasilia.ghtml

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